terça-feira, 3 de maio de 2016

Mar de Sophia

Mar, metade da minha alma é feita de maresia 
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, 
Que há no vasto clamor da maré cheia, 
Que nunca nenhum bem me satisfez. 
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia 
Mais fortes se levantam outra vez, 
Que após cada queda caminho para a vida, 
Por uma nova ilusão entontecida. 

E se vou dizendo aos astros o meu mal 
É porque também tu revoltado e teatral 
Fazes soar a tua dor pelas alturas. 
E se antes de tudo odeio e fujo 
O que é impuro, profano e sujo, 
É só porque as tuas ondas são puras. 

Sophia de Mello Andresen

Nenhum comentário:

Postar um comentário