quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Várias que tirei do meu face

"Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto." William Shakespeare
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"Levanta os pés do chão. A liberadade é instável;
a destruição de ataduras; as cordas, os sustentos,
as fixações que nos mantém atados.
Dissipa a gravidade, a escuridão da matéria,
deixa entrar a luz. Para iluminar e ventilar, deixa
que as palavras fiquem cheias de luz e ar: de espírito.
Que se faça a luz. O amor sem ataduras é luz.
A consciência penetra a obscuridão; a consciência
é uma abertura ou vazio."
Norman O. Brown, Love's Body
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"O homem é definido como um ser que evolui, como o animal é imaturo por excelência." Friedrich Nietzsche
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"E já que só posso viver uma vida, então prefiro conhecê-la como Inferno, Purgatório e Paraíso ao mesmo tempo." (Henry Miller)
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"Quando lutamos, aguerridamente, por aquilo em que acreditamos, temos sempre condição de superar “ aquilo que os outros tentam fazer de nós”, sendo necessário para tanto, uma inteligibilidade que compreenda o homem como ser dialético, como uma liberdade, podendo sempre transcender seu “destino”, enquanto um vir-a-ser."
Tese de doutorado - Daniela schneider
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"Somos ainda o que vamos deixar de ser e já somos o que seremos. Vivemos nossa morte, morreremos nossa vida."
Jean Paul Sartre
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"Um homem livre pensa em tudo menos na morte, e sua sabedoria é uma meditação não sobre a morte, mas sobre a vida."
Spinoza

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Não me peça para permanecer o mesmo

- Você não está seguro do que diz? Vai novamente mudar, deslocar-se em relação às questões que lhe são colocadas, dizer que as objeções não apontam realmente para o lugar em que você se pronuncia? Você se prepara para dizer, ainda uma vez, que você nunca foi aquilo que era, você se critica? Você já arranja a saída que lhe permitirá, em seu próximo livro, ressurgir em outro lugar e zombar como o faz agora: não, não, eu não estou onde você me espreita, mas aqui de onde o observo rindo.

- Como?! Você pensa que eu teria tanta dificuldade e tanto prazer em escrever, que eu me teria obstinado nisso, cabeça baixa, se não preparasse – com as mãos um pouco febris – o labirinto onde me aventurar, deslocar meu propósito, abrir-lhe subterrâneos, enterrá-lo longe dele mesmo, encontrar-lhe desvios que resumem e deformam seu percurso, onde me perder e aparecer, finalmente, diante de olhos que eu não terei mais que encontrar? Vários, como eu sem dúvida, escrevem para não ter mais um rosto. Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo: é uma moral de estado civil; ela rege nossos papéis. Que ela nos deixe livres quando se trata de escrever.

Trecho retirado da introdução de A Arqueologia do Saber de Michel Foucault

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A burguesia fede!

Ele, que se desenvolveu muito mais do que se esperava de um burguês, ele, que conhece as delícias da meditação e também as sombrias alegrias do ódio e do ódio contra si mesmo, ele, que despreza a lei, a virtude, o senso comum, é no entanto um prisioneiro forçado da burguesia, e não pode escapar a ela. E, assim, em torno do núcleo da burguesia se sobrepõem amplas camadas de humanidade, muitos milhares de vidas e inteligências, cada uma das quais surgida certamente da burguesia e disposta a uma vida sem reservas, mas que continua dependente da burguesia por sentimentos infantis e um tanto contagiada em sua debilidade pela intensidade vital; embora desterrados da burguesia, continua de certo modo pertecendo a ela, obrigadas a ela e a seu serviço, pois à burguesia assenta perfeitamente o contrário da máxima do Grande:"Quem não está contra mim está comigo!"

Hermann Hesse - O lobo da estepe

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cicatrizes

Mesmo as feridas mais árduas um dia iram cicatrizar.
A dor cessa;
A dor que outrora doía na alma.
Os músculos tremiam e a enxaqueca explodindo minha cabeça;
O estresse em alto nível e o pensamento era quando isso iria passar.
A dor não só estava na pele, no corpo, na mente, mas muito além de mim e de meus pensamentos;
- A dor era na alma!
Nem toda dor é apenas o desejo de não sentir mais dor;
Essa era um desejo de esquecer, de matar, de morrer.

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“L’art est la Solution au Chaos”

sábado, 8 de outubro de 2011


Às vezes minha vida se parece com um quebra-cabeça onde tenho que ir aos poucos juntando todas as peças e encaixando uma por uma, parte por parte. Insistindo e persistindo, às vezes errando o desenho, encaixando peças em lugares errados, mas sem jamais desistir. Seguindo em frente, com o espírito sempre de adolescente, “aborrecente”, contra corrente, montando esse quadro tentando não falhar sem deixar buracos e nem peças faltando. As ilusões se misturam com a realidade fazendo meu caminho trepidar. Buscando uma base firme e segura pro vento não fazer as peças voar. Tentando ser água de rio que corre pro mar. E esse quebra-cabeça um dia quem sabe irei completar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Não Há Dor Que Justifique a Fuga

A escuridão, as trevas desesperadas, é esse o círculo terrível da vida do dia-a-dia. Por que é que uma pessoa se levanta de manhã, come, bebe e se deita outra vez? A criança, o selvagem, o jovem saudável, o animal não padecem sob a rotina deste círculo de coisas e atividades indiferentes. Aquele a quem os pensamentos não atormentam, alegra-se com o levantar pela manhã e com o comer e o beber, acha que é o suficiente e não quer outra coisa.
Mas quem viu esta naturalidade perder-se, procura no decurso do dia, ansioso e desperto, os momentos da verdadeira vida cujas cintilações o tornam feliz e que apagam a sensação de que o tempo reúne em si todos os pensamentos relativos ao sentido e ao objetivo de tudo. Podem chamar a esses momentos, momentos criadores, porque parece que trazem a sensação de união com o criador, porque se sente tudo como desejado, mesmo que seja obra do acaso. É aquilo a que os místicos chamam união com Deus. Talvez seja a luz muito clara desses momentos que faz parecer tudo tão escuro, talvez a libertadora e maravilhosa leveza desses momentos faça sentir o resto da vida tão pesada, pegajosa e opressiva. Não sei, não aprofundei muito o pensamento e a tirada filosófica. Mas sei que se há bem-aventurança e um paraíso tem de ser uma duração incólume de tais momentos, e se se pode obter esta felicidade pela dor e pela sublimação na dor, não há nenhuma dor que justifique a fuga.

Hermann Hesse, in "Gertrud" (personagem Kuhn)

A criança curiosa e filósofa

Resgate a criança curiosa e filósofa que dorme em algum canto do seu self, toda criança sadia é uma filósofa. De asas a sua imaginação, ou seja, permita em muitas ocasiões que a sua imagem se transforme em ação, com vista a libertar sua criatividade. Para que você seja bem sucedido no resgate de sua criança-curiosa, filósofa, imaginativa, criativa, é imprescindível que tenha bem estabelecida a diferença que existe entre uma curiosidade patogênica e uma sadia. A primeira é de natureza essencialmente intrusiva, invasiva, invejosa e controladora. A segunda é uma curiosidade saudável e estruturante do psiquismo, visto que conduz a um estado mental interrogativo, aliado a um amor pelas verdades, o que conduz a um sentimento de sentir-se verdadeiro e autêntico.
Destarte não se apoquente com a sua relativa ignorância; pelo contrário faça um bom uso dela. Aplique para si mesmo o "método maiêutico" preconizado por Sócrates, que induzia o interlocutor a reconhecer sua própria ignorância e, a partir dai, encontrar e partejar possíveis soluções e novas aberturas. "Novas aberturas" não quer dizer que elas devam ser certas, ou originalíssimas, mas, sim, simplesmente, que elas sejam outras...
Incorpore o "principio da incerteza" do filosofo Heisenberg, princípio hoje aceito por todas as ciências, logo, pela psicanálise - alude ao fato de que a verdade é sempre relativa, e que a significação dos fenômenos observados dependem, em grande parte, da atitude e da posição do observador. Cuide-se para que não caia em dogmatismo moralista e doutrinário.

David E. Zimerman Manual de Tecnica Psicanalitica p.454

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Amor como Factor Civilizador

As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo — casamento, amizade, as relações entre pais e filhos — contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa à percepção em consequência da repressão. Isso acha-se menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação ao seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimónio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra. De duas cidades vizinhas, cada uma é a mais ciumenta rival da outra; cada pequeno cantão encara os outros com desprezo. Raças estreitamente aparentadas mantêm-se a certa distância uma da outra: o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional, o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês, o espanhol despreza o português. Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável, tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão, o ariano pelo semita.
Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas, descrevemo-la como ambivalência de sentimentos e explicamos o facto, provavelmente de maneira demasiadamente racional, por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas.Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar, podemos identificar a expressão do amor a si mesmo, do narcisismo. Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do indivíduo e comporta-se como se a ocorrência de qualquer divergência das suas próprias linhas específicas de desenvolvimento envolvesse uma crítica delas e uma exigência da sua alteração. Não sabemos por que tal sensitividade deva dirigir-se exatamente a esses pormenores de diferenciação, mas é inequívoco que, em relação a tudo isso, os homens dão provas de uma presteza a odiar, de uma agressividade cuja fonte é desconhecida, e à qual se fica tentado a atribuir um carácter elementar.
Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessa intolerância desvanece-se, temporária ou permanentemente, dentro do grupo. Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende, os indivíduos do grupo comportam-se como se fossem uniformes, toleram as peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a eles e não sentem aversão por eles. Uma tal limitação do narcisismo, de acordo com nossas concepções teóricas, só pode ser produzida por um determinado factor, um laço libidinal com as outras pessoas. O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objectos. Levantar-se-á imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria, sem qualquer adição de libido, não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas. Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que, não obstante, nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efectuada dessa maneira, visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas. Contudo, a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor, porque a experiência demonstrou que, nos casos de colaboração, se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho, laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo. A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens, como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual. A libido liga-se à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objectos as pessoas que têm uma parte nesse processo. E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor actua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. E isso é verdade tanto quanto ao amor sexual pelas mulheres, com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres, quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outros homens, que se origina do trabalho em comum.

Sigmund Freud, in 'Psicologia das Massas e a Análise do Eu'

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Frases perdidas

A vida acaba tornando-se tempo
Com poucos sentimentos distintos
Outros que a muito deveriam ter perdido o sentido
O amor que muitas vezes vem confrontar
Em brumas de fim de inverno

Velhas frustrações
Quando as noites são mais claras
Um sentimento que em horas de pensamento liberto
Volta a apunhalar pelas costas
O coração, a mente e a alma.

Mas ainda assim o dia insiste em nascer
E amanhece tocando um velho rock’n roll

Acreditar

Hei de acreditar na utopia;
Hei de acreditar na revolução;
Hei de acreditar no amor.
Porque apenas;
Hei de acreditar em alguma coisa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Agosto

Agosto Alguns olhares de agosto: Mês do cachorro louco Mês do desgosto; Fim do inverno. Oitavo mês no calendário. No guia astral, meu inferno. Na vida pessoal, solitário. Quedo-me forte sofrendo. No próximo mês, é aniversário. Odeio ficar passando agosto, esperando setembro! A gosto e a contra-gosto.

Bijuterias

Em setembro
Se Vênus me ajudar
Virá alguém
Eu sou de virgem
E só de imaginar
Me dá vertigem
Minha pedra é ametista
Minha cor, o amarelo
Mas sou sincero
Necessito ir urgente ao dentista
Tenho alma de artista
E tremores nas mãos

Ao meu bem mostrarei
No coração. Um sopro e uma ilusão
Eu sei
Na idade em que estou
Aparecem os tiques, as manias
Transparentes Transparentes
Feito bijuterias
Pelas vitrines
Da Sloper da alma
(João Bosco)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Feliz Dia para Quem É

Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pensamentos voam como o vento

Seis bilhões de pessoas no planeta e às vezes tudo que precisamos é apenas uma. A solidão acaba tornando-se um dos principais males do séc.XXI. A sociedade moderna com seu grande individualismo afasta-se cada vez mais das atividades em grupos, ou momentos de compartilhar com a família, com os meios sociais difundido em camadas e suas classes sociais as pessoas acabam tendo a tendência de buscar a independência e o individualismo.
O ser jamais pode existir, talvez na arte esquecida de algum aleijadinho que perambula pelos metros de São Paulo pedindo esmolas ou vendendo quadros de carvão. Essa sociedade o ter é o que vem em primeiro lugar, você é o que você tem, não o que você faz, sabe, conhece, estuda, vive, experiência e aprende, mas sim o que você tem como carro, apartamento, empresa, dinheiro, sim meus queridos o dinheiro eis o bem mais valioso nessa sociedade que aos poucos se deplora cada vez mais.
Escrever eis o único motivo que me leva a ter a motivação necessária para viver. Logo eu um jovem tão cheio de vida, de escolhas e possibilidades me limito à escrita literária e poética como a grande razão da vida, nem sempre a vida tem razão, sentido ou motivo, mas a escrita me completa me dando uma boa razão, um sentido e um motivo. Escrever para viver. Idéias para ser. Criar para ter.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O medo ameaça:

se você ama, terá Aids
se fuma, terá câncer
se respira, terá contaminação
se bebe, terá acidentes
se come, terá colesterol
se fala, terá desemprego
se caminha, terá violência
se pensa, terá angústia
se duvida, terá loucura
se sente, terá solidão.

(Eduardo Galeano)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Não te amo mais

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

(Obs importante: Apesar deste poema já estar cadastrado, vale ressaltar que sua leitura é feita de ordem inversa, ou seja de baixo para cima - ocorre duas interpretações distintas conforme o fluxo da leitura)
Clarice Lispector

domingo, 17 de julho de 2011

Liberdade?!

A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.

Do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa (Cia das Letras, 2006 - p.278)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Indizivelmente sós

Eu estou só.
O gato está só.
As árvores estão sós.
Mas não o só da solidão: o só da solistência.

(Guimarães Rosa)

sábado, 2 de julho de 2011

Amor bastante

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo Mendes Leminski

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O quereres

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock?n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim
(Caetano Veloso)

Amor, Então...

Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

(Paulo M. Leminski)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Era de amar:

Era uma noite comum,
estava en uma mesa de bar,
Janeiro foi naquele lugar,
e ela me olhou de um jeito:
água do mar.
Era de fumar e rir,
era de saber esperar,
era de sair a buscar
nao era uma olhada qualquer:
era de amar.
Eu ando pelo mar,
eu ando ao longo do fundo do mar.
Uma queda poderia ter,
todos os segredos do mar,
tudo o que eu posso dizer,
tudo que veio depois
era de imaginar.
Eu ando pelo mar,
eu ando ao longo do fundo do mar.

Jorge drexler

quinta-feira, 5 de maio de 2011

INTEGRAÇOES

Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.

Perto de mim com teus hábitos,
teu colorido e tua guitarra
como estao juntos os países
nas liçoes escolares
e duas comarcas se confundem
e há um rio perto de um rio
e crescem juntos dois vulcoes.

Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é tua ausência
e é cor de argila a lua
na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pedras pavorosas
pode marchar com quatro pés
e quatro lábios, a ternura.

Pablo Neruda

domingo, 13 de fevereiro de 2011

All My Loving

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

I'll pretend that I'm kissing
The lips I am missing
And hope that my dreams will come true

And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

All my loving I will send to you
All my loving, darling, I'll be true
All my loving, All my loving
All my loving I will send to you

Todo Meu Amor
Feche os olhos e eu irei te beijar
Amanhã sentirei saudades de você
Lembre-se que eu sempre serei verdadeiro
E enquanto eu estiver fora
Escreverei para casa todo dia
E mandarei todo meu amor pra você

Vou fingir que estou beijando
Os lábios que sinto saudade
E esperar que meus sonhos se tornem realidade

E enquanto eu estiver fora
Escreverei para casa todo dia
E mandarei todo meu amor pra você

Todo meu amor, eu mandarei pra você
Todo meu amor, querida, eu serei verdadeiro

Feche os olhos e eu irei te beijar
Amanhã sentirei saudades de você
Lembre-se que eu sempre serei verdadeiro
E enquanto eu estiver fora
Escrevei para casa todo dia
E mandarei todo meu amor pra você

Todo meu amor, eu mandarei para você.
Todo Meu Amor, querida, eu serei verdadeiro.
Todo meu amor. Todo meu amor.
Todo meu amor, eu mandarei para você.

The Beatles - All my loving

http://www.youtube.com/watch?v=-s_ryWs9xa4

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saudade

Um retiro espiritual onde encontro a paz e a saudade floresce. A poesia renasce e a vida passa tranqüilamente.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
Clarice Lispector